Como bom andarilho que sou visitei muitos lugares, alguns lindos, acolhedores, outros sinistros e assustadores. Hoje estou passando na estrada da raiva, vermelha e às vezes roxa. Acredito que todos já ouviram a expressão: roxo de raiva!
O caminho não é feio, frio ou indiferente, mas em alguns pontos da estrada há grandes explosões, as pessoas que moram aqui estão sempre doentes, ansiosas e angustiadas. As casas são corroídas lentamente de dentro para fora, eles nem se apercebem.
Tem uma praça no meio da cidade onde a insegurança e a frustração brincam juntas, não entendi a lógica da brincadeira, mas o juiz ego ferido entende bem do jogo sinistro. O protesto grita o tempo todo, a timidez fica quieta observando. Uma confusão, com muitos objetos quebrados, o verdadeiro caos. A praça é adornada pela erva daninha do ressentimento, tem também umas plantas carnívoras do rancor. Do lado direito há um palco com um festival da culpa: gritos, choro, xingamento e palavrão. A Queixa não para de aplaudir e assobiar, a Desunião vibra. É bizarro! Num estande sombrio encontrei a ira e a agressividade jogando impaciência, bem surreal.
Eu comecei a perder a calma, ficar impaciente, irritado, meu coração acelerado, senti vontade de gritar e acabar com aquela loucura.
A contida falou discretamente: melhor é reprimir esses sentimentos, se der vazão a eles vai perder a razão. Não rejeitei o conselho, porém reprimir não era solução, em todo o caminho há o escritório do Bom Senso, então decidi procurar a sabedoria desse velho amigo, para encontrar o equilíbrio. O bom velhinho não estava, todavia não dei viagem perdida, o seu assistente me deu a receita do antídoto contra a raiva.
Abri o papel e li sentado numa sombra da árvore chamada abrigo.
Respire devagar, mude o foco, olhes para as flores amor-perfeito, contemple sua beleza e sinta o vento tocar na sua pele, agradeça por tamanha dádiva, agora mais calmo prepare o antídoto:
1 colher de autoconhecimento
1 colher de gratidão
1 colher de compaixão
1 xícara bem cheia de perdão
10 gotas de tempo
1 pitada de respeito
1 dose generosa de compreensão
Oração a gosto
Tome o antídoto e caminhe até o prédio com a placa: libere suas emoções. Lá tem pintura, artesanato, costura, bordado, tricô, crochê e uma área para exercícios, massagens, técnicas de relaxamento… quando sair de lá vai estar em condições de lidar com a loucura da raiva.
Obrigado pela preferência.
Volte sempre!
Atenciosamente
Bom Senso.
Segui a risca as orientações do meu velho amigo, a calma fez as pazes comigo e pude entender melhor como funciona essa estrada, e o porquê dela ser assim. Conversei francamente com o trauma, com a dor emocional, com o entretenimento e com especialista, a causa da raiva é controversa, no entanto, aprendi lições valiosas sobre meus sentimentos, autoconhecimento e como controlá-los. Apesar do caos dessa estrada, levo lições importantes na minha mochila e mais um antídoto.
A raiva explosiva ou a contida fazem mal para a saúde.
ResponderExcluirGostei da receita.
As dez gotas de tempo é porque contar até dez acalma?
ResponderExcluirParabéns pelo texto